Tempo ‘escondido’
A lista era pequena. Não havia nomes ‘exóticos’, nem técnicas rebuscadas. O meu almoço ia ficar pronto num instante. Perfeito!
Só que não ficou. Cometi um erro de novata. Li a receita a ‘correr’ e não contabilizei o tempo escondido. Aqueles minutos preciosos que nunca aparecem na descrição e que são essenciais para a preparação do prato. Por mais simples e poucos que sejam os ingredientes, eles não se pesam, medem, cortam ou lavam sozinhos. Pois não? E os utensílios não aparecem prontos em cima da banca. Pois não?
Pode parecer irrelevante, mas todos esses passos somam tempo. E aquela receita rápida de 30 minutos, afinal demora 50 ou 60 minutos. O apetite e a frustração aumentam na mesma proporção.
Também no mundo da escrita, o tempo escondido ‘passa ao lado’ de quem lê. Preencher a folha com as palavras certas, construir frases e criar textos parece fácil e quase instantâneo. Porque nas contas do cliente, do leitor, da audiência não entram os minutos (as horas) de preparação dos ingredientes. A pesquisa, a leitura, a selecção da informação não é um processo imediato. E sem ele os conteúdos não se escrevem. Pois não?
Na cozinha e na escrita, há muito trabalho invisível aos olhos de quem é servido. Mas que é essencial para o sucesso do prato e do texto. A qualidade do que cozinhamos reflecte o tempo que dedicamos ao nosso projecto.
Nem sempre vemos o que está mesmo à nossa frente. Pois não?