Palavras ‘difíceis’

Cópias. Ditados. Resumos. Verbos. Palavras difíceis. Preencheram os meus cadernos da escola primária. Aprendi com todos. Mas havia um preferido, como (quase) sempre há.

Para mim, eram as palavras difíceis, como eu lhes chamava. Quando lia um texto, sublinhava os nomes, os verbos e os adjectivos que não conhecia. Depois procurava no dicionário o seu significado e escrevia-o no caderno. Foram as minhas primeiras palavras cruzadas, mas ao contrário.

O grau de dificuldade e a curiosidade foram crescendo, lado a lado. Mesmo quando a professora não pedia, eu fazia o exercício. Porque a vontade de saber sobre aqueles conjuntos de letras tinha-se instalado em mim. A mesma palavra, contextos diferentes e tudo mudava.

O dicionário passou a ser visita de casa. Criámos uma relação simpática, de confiança e duradoura. Ainda hoje gosto de conversar com ele. Os bons amigos são para a vida.

Quando me dediquei à escrita, percebi a importância das minhas palavras difíceis. Foram elas que me mostraram a riqueza da Língua Portuguesa e a sua maravilhosa diversidade. Aprendi que cada palavra tem o seu lugar, na frase e no texto. Fazer a escolha mais adequada ao conteúdo é um dever do escritor.

Na vida, profissional e pessoal, as nossas bases são o ponto de partida. E quando elas são sólidas, o resto é mais fácil.

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