O peso das palavras

Já fui despedida e já me despedi. Confesso que não gostei de nenhuma das situações e, muito menos, das sensações.

Estava sentada (e ainda bem), quando me comunicaram a decisão de pôr um ponto final na nossa relação profissional. Fui apanhada de surpresa. Na semana anterior tinha reunido naquela mesma sala para pedir um aumento. A capacidade da vida de nos surpreender é maravilhosa.  

Como tinha sido a última a chegar à empresa, fui a primeira a sair. A culpa era das dificuldades financeiras e da crise. E assim foi.

A minha demissão seguiu por correio registado, como dizem as ‘regras’. Tinha chegado a um beco. Ou me acomodava e ficava por ali. Ou voltava atrás e procurava outro caminho. Optei pela segunda hipótese.

A angústia, as dúvidas e o medo acompanharam a minha decisão. Queria sair, mas o racional dizia-me para ficar. Até que tive o meu momento eureka e percebi que tinha de ser. E assim foi.

Ser, estar, ficar desempregada. Mais do que a situação em que me encontrei, foi o peso das palavras que me afectou. Aquele ‘rótulo’ mexeu comigo. Sentia a necessidade de me justificar aos outros. Como é que eu tinha ‘perdido’ o meu emprego? O tempo ensinou-me que não era bem assim. E não foi.

Quando escrevo, selecciono as minhas palavras com todo o cuidado. Porque elas não carregam apenas o seu significado. ‘Pesam’ muito mais. As palavras absorvem sentimentos, emoções e sensações que atingem na ‘mouche’ o seu destinatário.

É por isso que gosto de escrever com peso, conta, medida e bom senso.

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